Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
As desigualdades de
gênero estão na pauta do dia nos debates acadêmicos e políticos. Há uma
variada gama de posições, perspectivas e abordagens sobre o tema,
dialogando de modo interdisciplinar e lidando com diferentes questões.
Judith
Butler publicou, em 1990, a obra “Problemas de gênero: feminismo e
subversão da identidade”, livro que gerou forte impacto nos grupos
feministas e nas discussões sobre gênero. Butler questiona a distinção
entre sexo e gênero, colocando em suspeição a ideia de que o sujeito do
feminismo recai com exclusividade sobre as mulheres.
Para a
autora, as instâncias reguladoras de poder impõem uma heterossexualidade
compulsória e forjam um discurso dominante, fixando as identidades de
gênero. Seu argumento pretende, ao criticar essa dinâmica, abrir
caminhos para possibilidades de construções variáveis das identidades,
buscando incluir lésbicas, transexuais e intersexuais.
Assim,
Butler sublinha o caráter construído socialmente de todas as
identidades. Isso problematiza teorias que operam com a categoria
“mulher/mulheres” enquanto sujeitos privilegiados da luta política pela
igualdade de gênero. Rejeitando essencialismos, não seria apropriado
conceber esse sujeito político em termos estáveis ou permanentes.