ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Novo tempo

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Talvez você, como eu, que é mais fácil ser convertido num PDF do que em apoiador de governo da morte, esteja com os nervos à flor da pele. Teremos alguns dias que vão parecer séculos pela frente e a coisa tá e vai seguir tensa e difícil.

Pensando bem, sempre foi tenso e difícil nesses tristes trópicos. Quando os ancestrais originários que manejavam como ninguém nossas florestas se deparavam com o invasor e sua sanha colonizadora, não era nada fácil. Veio a queda do céu, mas ninguém desistiu.

Quando pessoas escravizadas atravessavam o Atlântico e sobreviviam, sobrava desolação. E, então, jogava-se a capoeira, batiam-se os tambores e logo ali se aquilombavam povos inteiros. Resistiam e enfrentavam os donos do poder e seus capitães do mato.

Canta a pimentinha que a glória, à todas as lutas inglórias, nós não esquecemos jamais. Do suor de quem labuta nas fábricas, lares, comércios, escolas e universidades públicas; de quem rala nas lavouras e não é pop; das minas, manos e monas que decidem sobre seus corpos e amam quem quiserem amar: dessas gentes nascerá um novo país.

Cedo ou tarde, vamos despachar esse carrego que nos assalta há séculos. Pelo legado de quem foi torturado e supliciado. Por quem dedicou e dedica a vida a democratizar essa nação, nas ruas e nas instituições. Erguer a cabeça, firmar o pé, agir e botar fé. Mandar a tristeza embora. Acreditar que um novo tempo vai raiar. Nossa vitória não será por acidente.