ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Bruno Latour e a ciência em ação

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Bruno Latour foi um dos principais pensadores da ciência nas últimas décadas. O sociólogo e filósofo francês, conhecido por suas obras impactantes, mas também por ser um pesquisador que gostava de dar aulas, deixa um legado fundamental para as discussões sobre o conhecimento no tempo presente.

Seguindo os passos de David Bloor, Latour, Michel Callon e Madelaine Akrich foram responsáveis por elaborar a chamada "teoria ator-rede". No âmbito dos estudos da ciência, tecnologia e sociedade, essa linha teórica considera os atores sociais definidos pelo papel exercido na sua rede de atuação, pelos efeitos e repercussões que geram nessa rede. Tratam-se de "atores híbridos", porque a ação não é percebida como uma propriedade somente humana, mas como uma associação de actantes.

O ponto é entender que atores/actantes podem ser pessoas, objetos, animais, dispositivos inteligentes (máquinas) e instituições, por exemplo. Eles estão envolvidos em redes, com suas conexões ("nós") e interligações. Atores não humanos e humanos agem concomitantemente, influenciam e interferem no comportamento uns dos outros, sendo os atores não humanos ajustados pelos humanos conforme suas demandas.

Latour interessou-se bastante por investigar a ciência no seu "fazer", na sua construção diária. Na busca por analisar a ciência em ação, na prática, realizou diferentes etnografias em laboratórios de alta tecnologia. Sua antropologia das ciências procurou compreender como ocorre a produção dos fatos científicos e da verdade nas sociedades contemporâneas - ou, melhor dizendo, nas redes sociotécnicas. Uma jornada que rende e ainda renderá muitos frutos.