Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Era uma cidade maravilhosa. Cheia de bonitezas. Nas gentes, nos contornos naturais. Lá, como em vários lugares, os responsáveis por recolher o lixo produzido pela sociedade apenas sobreviviam. Pobres, constantemente humilhados, tratados como os objetos que recolhiam, eles e elas atravessavam a sua existência no planeta com muitas dificuldades. Mesmo assim, os principais cartões-postais da metrópole seguiam asseados no cotidiano.
Certa vez, o prefeito daquelas bandas aprovou uma lei que multava quem jogasse lixo no chão. Interessante. Chegou o carnaval. Amontoaram-se os turistas. O prefeito jogou lixo no chão e as câmeras captaram. Em paralelo, os servidores da limpeza resolveram não mais servir. Cruzaram os braços e pediram melhores condições. De vida, de trabalho, de remuneração. Bradaram por mais humanidade.
A mídia (que desinforma) berrou como um bebê. Os moradores dos bairros nobres espernearam. A repressão cresceu. O lixo também. “Mó vacilão esse prefeito! Tinha que ralá peito de lá, porra!”, ouviu-se pelas quebradas. A coisa ficou feia, suja e fedorenta.
Das ruas veio a vitória. Com mobilização, sem implodir a tudo e a todos. O salário dos garis aumentou. Vitória da esperança.
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