ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

sexta-feira, 21 de março de 2014

Entre o real e as aparências

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Chovia. O dia era feio demais. O rádio não parava de espalhar impropérios.

- Mulher não quer entrar na política! Elas querem é ficar em casa, não querem enfrentar as dificuldades!
- Acho que não tem que ter cotas para mulheres na política. Cada uma faz o que quer. Se elas não participam é porque não têm vocação!
- Esse negócio de mulher na política vai acabar com a família brasileira!

Náuseas. Fui tomado por elas. Pensei. Entre a realidade e a aparência há um labirinto de relações e acontecimentos. Lembrei o Mito da Caverna, narrado por Platão. Viajei. Quando se trata do papel da mulher na vida social, o universo masculino permanece na escuridão. Achando que as aparências traduzem o real. Negando a possibilidade de ultrapassar a penumbra. Com medo do protagonismo e da auto-organização feminina/feminista.

Enfrentar a sua própria caverna é o mínimo, é obrigação. Pode não ser fácil, mas já passou da hora de tentar.

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