Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Em meio às leituras, já na madrugada, viajei para longe. Estava na América do Norte. Como sociólogo estudioso das desigualdades, satisfazia-me com o diálogo que travava. Localizava-me frente a uma artilharia pesada contra o pensamento rasteiro. Conversava com o economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel em 2008, professor da Universidade de Princeton. O assunto girava em torno de dois tópicos duvidosos: os ricos são ricos porque se esforçam; a desigualdade não está aumentando.
Dizia Krugman: “Os conservadores querem levá-lo a acreditar que as grandes recompensas, nos Estados Unidos modernos, são reservadas aos inovadores e empreendedores, pessoas que criam empresas e promovem o avanço da tecnologia. [...] Como aponta Matt Levine, da ‘Bloomberg View’, a renda de muitos dos mais conhecidos administradores de fundos não vêm de investir o dinheiro alheio, mas do retorno sobre sua riqueza – ou seja, a razão para que ganhem tanto é o fato de que já são muito ricos” [1].
Esclarecedor. Kruger seguia derrubando mitos, intercalando os dois tópicos da conversa, elucidando controvérsias: “Portanto, eis o que é preciso saber: sim, a concentração tanto de renda quanto de riqueza nas mãos de uns poucos aumentou imensamente nas últimas décadas. Não, as pessoas que recebem essa renda e possuem essa riqueza não formam um grupo sempre mutável: é comum que pessoas se movimentem entre os 10% mais ricos e o 1% mais rico, e vice-versa, mas histórias de alguém que tenha ascendido da pobreza à riqueza, ou feito o percurso oposto, são raras” [2].
Como professor, aprendia demais naquela troca de ideias. Despertei reflexivo. Pensativo. Um duro golpe no conservadorismo tinha atravessado os meus sonhos. Ah, mas talvez muitos dos aderentes à lógica binária argumentassem que Paul Kruger é comunista, que Princeton é uma instituição comunista e que o The New York Times, jornal centenário, é uma publicação vermelha. Vai entender...
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[1] Ver em http://www1.folha.uol.com.br/.../1451852-quanta-riqueza....
[2] Ver em http://www1.folha.uol.com.br/.../1463757-sobre-a-negacao....
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