Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Enquanto a bola desfila na Copa do Mundo, afloram por aí muitas críticas ao Brasil dos dias de hoje. Elas se direcionam, basicamente, ao governo federal. Parecem caminhar em duas vias distintas. Pelo menos duas que saltam aos olhos.
A primeira reconhece (ou não) os avanços sociais da última década [1]. Porém, volta a sua artilharia para pontos específicos, como a agressividade seletiva das instituições policiais, a persistência das pautas conservadoras no Congresso e a política econômica por demais conciliadora com o capital financeiro. São apenas exemplos. Em resumo, exige a radicalização do combate às desigualdades sociais e o desabamento completo dos privilégios históricos das elites. Evidencia que não se pode esperar mais e que o atual governo é um retrocesso como qualquer outro já foi.
A outra face, por sua vez, padece de consistência argumentativa mínima e aposta na disseminação da raiva e do ódio. Enxerga os governantes da nação como guerrilheiros comunistas, seguidores das categorias gramscianas de uma espécie de revolução cultural. Esse viés crítico irracional sustenta, mesmo que indiretamente, a validade dos privilégios históricos das elites. Esculacha e rotula de ideológicas todas as tentativas de erradicá-los. Começa num discurso contrário ao vermelho e deságua nos mais nefastos valores, travestidos em bravatas vazias contra as classes populares – nas Universidades, nos Aeroportos, nos direitos das domésticas, nos shoppings e etc.
Com os primeiros, compartilho boa parte das arguições, embora divirja de algumas, sobretudo de parte das suas estratégias e ações políticas. Para os segundos, desejo e incentivo que se dediquem a produzir uma análise mais densa, profunda e sofisticada acerca da realidade. Urgentemente.
- - -
[1] Para saber mais, ver texto “Contra o pensamento binário”.
.