Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Conversas cotidianas.
- O bom da internet é que eu só vejo o que eu quero.
- Será que isso é bom?!
- Ué, e por que não seria?
- Sei lá, as pessoas não estariam cada vez mais bitoladas? Cada vez mais irreflexivas e presas num nicho específico de ideias?
- Como assim?
- Se tu não te propõe a ver, ler ou escutar o contraditório, aquilo que contraria o teu interesse, acho que tu vai ficando muito intolerante. E o pior, vai ficando com menos conhecimento sobre as coisas.
- Mas se tu te aprofunda num jeito de ver as coisas, por que ficaria com menos conhecimento sobre as coisas?
- É... depende de qual o tipo de material que tu acessa na internet. Só que eu ainda acho que o contraditório é importante. Faz pensar sobre o que é diferente daquilo que nos interessa, daquilo que nós defendemos.
- Pode ser. Eu vejo páginas da rede social, vejo blogs, sites e tal.
- Beleza. E tu te preocupa com as fontes do que tu vê? De onde vêm os argumentos?
- Vêm dos sites, dos blogs e das redes sociais.
- Esse é outro problema. Minha pergunta é se tu sabe se é apenas uma opinião, se é um conteúdo fruto de pesquisa, de reflexão. Qual o critério que tu usa pra acreditar naquilo?
- Se tá lá, publicado, e eu concordo... esse é o critério.
- Então... esse é o meu receio de não buscar o contraditório. Algo que não está entre o que nós defendemos pode incomodar, mas pode ajudar a fazer a gente correr atrás e ver se é real ou não.
- Hmm.
- Acho que é preciso mais do que estar publicado para que a gente possa usar como critério daquilo que defendemos. Investigação, reflexão, fontes confiáveis, estudos aprofundados, enfim, são coisas que podem nos ajudar a fazer com que a gente não caia na vala comum das opiniões sobre tudo e sem relação com a realidade.
- É. Pode ser.
Pensamentos cotidianos.
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