ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Experimentando simetrizações

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

É triste. Dá um baita desânimo. Ouvir as colocações das pessoas sobre a educação básica pública me deixa chateado. Sobretudo pelo fato de que quase todas têm razão. As críticas se traduzem em muitas das práticas nas escolas públicas. Há um cenário desolador.

Mas não quero me prender nas lamúrias. Quero pensar no que faço. No que tento fazer. Desanimado, não desisto – ainda. Aposto nos estudantes. Tento buscar nos seus contributos, naquilo que eles têm a dizer, um caminho para a troca de aprendizagens. Um pouco (bem pouco) na linha de algumas das características de uma simetrização proposta pela Antropologia de Bruno Latour*. A busca por seguir nos atos, nos acontecimentos, na sala de aula, os dizeres dos educandos sem entendê-los como “outros inferiorizados” no que tange a uma cosmopolítica do conhecimento.

Sigo, conforme Latour, para ali adiante abandoná-lo. Simetrizados os diálogos entre docente e discente, quando enuncio a partir de alguma Sociologia, trago ao acontecimento o acúmulo das Ciências Sociais. Experimento conceitos. Ainda tomando o cuidado de não fazer dos “outros” sujeitos inferiorizados. Mas, quem sabe, emaranhando saberes hierarquicamente considerados díspares. Para, quem sabe, afastar o desânimo que o contexto oferece.

* Para iniciar uma leitura do autor, sugiro a obra: LATOUR, Bruno. Jamais Fomos Modernos: Ensaio de Antropologia Simétrica. São Paulo: Editoria 34, 2009.

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