ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A triangulação metodológica como recurso do fazer sociológico

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

As Ciências Sociais se propõem a estudar profundamente as relações entre os seres humanos, a sua vida social. Para isso, discutir questões metodológicas acerca do fazer Sociológico é uma tarefa bastante interessante. Teresa Duarte, Doutoranda em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), de Lisboa, Portugal, desenvolve um bom debate no texto “A possibilidade da investigação a 3: reflexões sobre triangulação (metodológica)”[1].

Como fazer para incorporar diferentes métodos de investigação social no interior de um projeto de pesquisa? Como resolver os embates provenientes entre distintas abordagens relativas às práticas de pesquisa para as Ciências Sociais? Essas e outras indagações constituem, por si só, uma intervenção promissora do Sociólogo que se presta a pensar o real de modo a transitar nos caminhos do conhecimento científico. Sobretudo se for encaminhada uma reflexão sobre as dualidades que se colocam, num cenário restritivo, no qual prepondera a não aceitação da tentativa de uma compreensão de mais aspectos do objeto em estudo através de conexões metodológicas.

Na visão de Duarte (2009), perquirir a realidade social pode suscitar a combinação de metodologias orientadas por diferentes tradições competentes à ontologia, à epistemologia e à axiologia. A proposta oferece o conceito de “triangulação” como forma de tentar aproximar os polos entre, por exemplo, os modelos positivistas e construtivistas que indicam a melhor maneira de analisar as sociedades humanas.

Noutra face, estão em jogo as oposições entre os métodos quantitativos e os métodos qualitativos. Este é um ponto em que há um antagonismo considerado extremo, embora nada irreversível, que tende a deixar pouca margem de interlocução entre algo que teria possibilidade de ser visto como complementar.

Quando se fala na investigação quantitativa, o pesquisador apresenta o conhecimento teórico da sua área, apoiado pelos resultados empíricos que o precederam. A teoria está na frente do que vai ser analisado. Suas hipóteses dependem da teoria. São elaboradas com a maior independência à realidade concreta, sendo operacionalizadas e testadas nas suas relações com a empiria. As ferramentas de análise são previamente concebidas. Diz Duarte (2009, p. 6) que os fenômenos observados classificam-se “[...] em termos de frequência e distribuição; da análise de dados regressa-se às hipóteses procedendo-se à sua corroboração ou informação; um dos fins últimos consiste na generalização dos resultados para a população”. Há aqueles que decidem que o quantitativo descreve o positivismo, embora seja pouco acreditável tal reducionismo nas perspectivas atuais.

Por parte da abordagem qualitativa, ainda que a teoria seja fundamental no processo, cabe mais a afirmação que não a vê como um a priori sobre o real. Suas prerrogativas teóricas descobrem-se e formulam-se ao sabor das práticas de pesquisa, acompanhando as incursões a campo e construindo os dados a serem analisados. “Mais do que testar teorias, procura-se descobrir novas teorias empiricamente enraizadas; a selecção dos casos privilegia a sua importância para o tema em estudo ao invés da sua representatividade” (DUARTE, 2009, p. 7). A ideia é que a complexidade cresça à medida que a imersão do pesquisador se faça presente e intensa, captando sentidos e interpretando os significados sociais disponíveis para os seus objetivos. A escolha dos casos não deve ser planejada com demasiado rigor. O pesquisador configura o coração da pesquisa.

Duarte (2009) sugere a busca por práticas científicas que rompam com uma espécie de “guerra paradigmática”, por intermédio de categorias como “triangulação”, “métodos mistos”, “modelos mistos” ou “métodos múltiplos”. Foca-se, contudo, somente na triangulação desenhada pela “triangulação metodológica”, um pouco na linha de Denzin (1989), Cox e Hassard (2005). Métodos qualitativos e os quantitativos podem ser combinados de formas distintas numa mesma pesquisa.

Por fim, vale sublinhar que as possibilidades de uma triangulação metodológica de caráter pós-positivista, que não prescinda da abordagem qualitativa, tanto quanto da quantitativa, podem insinuar uma trajetória valiosa na busca pelas complexidades do real. Podem, portanto, ajudar a realizar aquilo que as Ciências Sociais se encarregam de fazer: investigar as profundezas das relações sociais, descobrindo as suas principais características e entrelaçamentos.


[1] CIES e-WORKING PAPER N. º 60/2009.

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