Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Há algumas semanas, alguém me dizia com vigor: o ódio é transformador. Não gostei, não concordei, mas fiquei pensando nisso. Lá pelas tantas, ouvia um velho rap, daqueles das antigas mesmo.
- Quando o ódio dominar, não vai sobrar ninguém. O mal que você faz, reflete em mim também.
Respirava. Embora os conceitos de mal e bem demandassem substituição por outros mais precisos (opressões, dominações, etnocentrismo, desigualdades e por aí vai), a frase martelava insistentemente. Por causa das relações que propõe. Sobretudo por deixar evidente a evidência que remete ao fato de que eu e o mundo estamos numa íntima troca de experiências.
Há muito ódio nas quebradas, no asfalto, nos apartamentos. Há, também, ódios e ódios. Distingui-los parece uma tarefa importante. Ainda que eu não consiga vê-lo como um sentimento transformador. Por hora, outra canção tocava ao fundo, desta vez um samba clássico:
- O dia em que o morro descer e não for carnaval. Ninguém vai ficar pra assistir o desfile final...
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