ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 8 de abril de 2014

Notas de uma vida barata

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Vivia uma vida barata. Num sentido mais amplo do que o econômico. De fato, uma vida distante de muitos luxos. Carros importados, hotéis e restaurantes requintados, baladas da moda ou apartamentos e casas gigantes estavam fora da rotina. Não tinha propriedades materiais significativas. Porém, não reclamava disso. Sempre teve oportunidades e as valorizava com vigor.

Na contramão das ideias dominantes, uma vida barata poderia ter as suas vantagens. Óbvio que não se tratava de uma vida miserável ou degradante. Dizia o poeta Belchior: “Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas”. Fazia isso mesmo. Lia muitos textos e livros. Alguns bons e ótimos. Outros não tanto. Dialogava com muitas pessoas. Experimentava sensações e sentimentos. Sempre que possível, relacionava-se com o sol. Quando eclodiam lindas chances, não vacilava e ia à praia. Interagia com o mar. Ah, o mar...

Trabalhava com vontade. Ainda bem. Num ofício que envolvia estudos, interação e muita reflexão. No auge daquela vida barata, direcionava-se à busca de alguma felicidade. Que não sabia definir. Mas que (sentia bater forte) objetivava-se nas pessoas, na Sociologia e na prática da escrita. Nesses meandros morava a alegria. Morada singela, tentava sempre adorná-la com equilíbrio e esperança. Seguia em frente.

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