ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 29 de abril de 2014

Visíveis e invisíveis

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Vivia numa terra em que algumas vidas valiam mais do que outras. É, pode parecer incrível, mas era assim mesmo. Dependendo de quem estivesse em pauta, as coisas tomavam rumos muito diferentes. Ser um Zé Ninguém ou um craque do futebol fazia toda a diferença.

Todos os dias, vivenciava situações de desigualdade. Toda uma gama de atitudes e discursos escrotos para com o outro na vida social fazia a festa. “Você sabe com quem está falando?”, ouvia-se pelas ruas. Repetia-se: “Pois não, doutor”.

Um dia, dois atletas começaram uma campanha. Todos disseram: “Ah, que vergonha desse mundo racista!”. “Somos todos macacos! Uma banana aos racistas!” Camisetas da campanha venderam muito. Os meios de comunicação de massa se locupletaram como nunca. Aquilo faria as coisas avançarem. Só que não?

Enquanto isso, milhões eram subjugados. Milhões sem glamour. Quase invisíveis para o mercado e para a mídia, pois não davam lucro. Eram Amarildos, DG’s, Paulos, Josés e Marias. Naturalizavam-se, assim, desigualdades nada naturais.

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