Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
O cenário é sinuoso. Quando o líder do judiciário manda prender alguns políticos durante o feriado da República, no Brasil, o que pensar?
Uns dizem que é uma virada no combate à corrupção. Outros juram que é perseguição ideológica. Não sei. Mais do que ambos, talvez.
Para Montesquieu, filósofo francês iluminista, o poder deve limitar o poder, a fim de que não haja abuso de poder. Interessante. O homem que bate o martelo mais pesado da República cresce na parada. Desliza nas ondas do poder. O STF toma grandes decisões. Os outros poderes murcham na descrença geral. As ruas se agitam. Políticos vão para o xadrez. Outros políticos suspeitos seguem soltos.
O homem da capa preta é negro. Num país racista e mestiço. Racismo à brasileira. No mesmo triste mundo em que um jogador de futebol sai do gramado chorando pelas ofensas racistas da torcida. O chefe provoca. Faz e acontece. Muita gente aplaude. Outras gentes ficam espiadas. Advogados se organizam e fazem pressão.
Um impeachment no STF pode gerar um mártir da legalidade. Aquele que botou os corruptos na cadeia pode virar lema de herói popular. Afinal, os outros poderes constitucionais cobrem-se com telhados de vidro. Resistem pouco a uma inocente pedrada. Há pouca novidade em termos de alternativa no jogo político.
Vem aí a caça aos votos, na edição 2014. Em alguma medida, o dia a dia alimenta a ideia de que, se der merda, a regra é procurar a Justiça. E lá vai o magistrado bater o martelo. Na rua, negociar fica pra depois. O vizinho é adversário, por vezes inimigo. Curvas preocupantes. Olhos abertos.
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