ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Quem vai salvar quem?


O episódio envolvendo ativistas contrários ao uso de animais em testes científicos levantou bastante polêmica. Por um lado, aqueles que defendem que animais sentem dor, portanto a humanidade não pode dispor deles para avançar na ciência. De outro, aqueles que dizem que os humanos estão acima dos animais naImagem retirada do sítio http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,coisas-que-eu-queria-saber-aos-21-sidarta-ribeiro,790164,0.htm lógica da vida. O Professor Titular de Neurociência da UFRN, Sidarta Ribeiro (saiba mais), discorre sobre o tema e amplia os horizontes da compreensão sobre o assunto. O texto está publicado no jornal Estadão.

No vórtex contestatório que levanta pessoas em todo o planeta, eis que chega ao Brasil a ira santa contra a experimentação animal. Ativistas invadem laboratórios e retiram cães, para desespero dos cientistas que pesquisavam remédios oncológicos com esses animais. Confrontam-se argumentos. Há ética em submeter beagles adoráveis à experimentação fria? Por outro lado, será ético criar cães em apartamentos minúsculos, permitindo que desenvolvam problemas renais por baixa frequência de micção e obesidade por falta de exercício? Os ativistas acham que os cientistas são uns animais e vice-versa, como se isso fosse a maior ofensa.

O tema é forte e mobiliza paixões. São inegáveis os avanços para a saúde humana obtidos graças à experimentação animal, tais como vacinas, antibióticos, transplantes e reconstituição de órgãos. Sem a vivissecção, seria hoje impossível seguir avançando nas pesquisas sobre câncer, aids e doenças degenerativas, entre muitas outras. Mas se a pesquisa científica é patrimônio da humanidade, não há quem não se compadeça de um cãozinho melancólico.

O momento é oportuno para questionar injustiças e olhar de frente a questão dos direitos dos animais. Em perspectiva, nosso sucesso como espécie depende há milhares de anos da exploração de outras formas de vida. Nossos ancestrais nômades aprenderam a extrair de outros seres vivos seus alimentos, remédios, vestuário e serviços variados, domesticando espécies e criando novas raças a serviço do bicho homem. Não é exagero dizer que, sem tal domínio de outros seres, não haveria civilização. Portanto, o uso dos animais pela ciência nos últimos séculos, seja para compreender a biologia ou para resolver problemas práticos das pessoas, se configurou num contexto em que animais são coisas.

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