ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Gramáticas da grande humilhação

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

A Copa chega perto do fim. O maior rival está na grande final. No mundo do futebol, o Brasil está destroçado. Humilhado. A grande mídia ferve. Todos opinam. Interessante. Surge de tudo um pouco. Futebol e política se misturam. Complexificam-se. Uma série de gramáticas compete pelo sentido dos acontecimentos.

Vem alguém e diz que não gosta de política, não vai se manifestar sobre isso e só tem uma coisa a dizer: “#%!$@ presidenta!”. Aparecem os fenômenos #outubrovemai e #mudancajameupovo. Tem sempre aquelas loucuras de ver comunismo em tudo. Como? Sei lá. Mas tem.

Tem as críticas daqueles que já criticavam o cotidiano brasileiro. Que bem denunciam o superfaturamento nas obras do evento, as denúncias de corrupção em diversas esferas de poder, as remoções de famílias, a repressão do Estado e por aí segue a extensa lista. Uns acham que gritar gol é ridículo.

Pode-se apontar, também, o eurocentrismo presente em alguns tipos de falas que se espalham depois do massacre germânico. O complexo de vira-latas bomba de novo. Tudo que é de fora é melhor, é de Primeiro Mundo. Agora, nem do futebol a gente se orgulha mais.

Sobretudo, tem um processo eleitoral ali na frente. Futebol e política se misturam e, não se duvide, ainda existem ideologias. As relações sociais se assemelham a teias, feitas de configurações relacionais. A impressão é que os partidos usarão os resultados de campo da Copa do Mundo no cenário político próximo. O governo vai ter que lidar com a instabilidade. Isso não significa que a humilhante derrota para a Alemanha vai determinar sucessos ou insucessos em outubro. Somente que os imaginários coletivos formados a partir de oscilações entre sentimentos e razões têm tudo para fazer parte da briga por votos. Isso inclui a Copa, que entrará para a história pelos grandes confrontos, pelo sucesso na organização e/ou pelo fatídico fiasco dos sete a um?

A vida segue. É previsível que a retumbante queda da Seleção perante o mundo inteiro se transforme em algum tipo de capital no jogo por posições dominantes no Estado. Jogo que promete ficar cada vez mais pegado passados 12 anos de continuidade.

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